Sanzala
Ouve-se
cantar. Lá ao fundo naquela plantação de café.
Canções
tristes, canções alegres.
Cantam para trabalhar com mais ânimo, com
mais força, para o dia findar mais rapidamente e com ele a altura de ir para
casa ver a mulher e filhos.
Esses porém estão no auge das suas vidas sem
puderem imaginar o que ela lhes preparou e para o que estão predestinados.
Vida ingrata e dura sem descanso nem alegria,
mas cheia de ilusões e sensações grutescas e frustrantes, sem que delas possas
tirar o melhor partido dessa vida desconcertante.
Voltas para casa depois de um dia de trabalho
e sem remuneração suficiente para sustentares a tua família. A tua mulher
também trabalha com o vosso filho mais novo às costas, sem condições e com
poucas forças.
Sanzala. Nada existe de reconfortante, tudo é
triste, frio e sem aconchego, não gostas de lá estar. Nutres a esperança de que
um dia possas sair dessa vida, levares a tua família para um local mais acolhedor
e que tenhas possibilidade de lhes dares tudo do bom e do melhor.
E esse dia chegou, chegou o momento há muito
esperado, a Liberdade dos escravos.
Deixas-te de ser escravo, és um ser humano
igual a tantos outros, muito embora não te considerem como tal, pois como foste
criado num ambiente de escravidão, desconfias de tudo e todos e a tua vida não
tem sossego.
Voltas à sanzala, arranjas um bocado da terra
e cultivas para ti e para a tua família, essa terra é tua, e o produto é a consequência
do teu suor, quase não tens descanso, mas é o resultado de todo o teu amor.
Um dia vão respeitar-te pelo homem que és
pelo homem que te tornaste. Viverás junto da tua família, com a tua vivenda,
com jardim para os teus filhos brincarem e quiçá netos também, estes nunca
chegarão a saber o que é a escravatura e ainda bem que assim é.
Vive e vai cantando para teres ânimo e força
nesta tua vida.
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