Histórias aleatórias II
“Parte II
Encheste-te de coragem e entraste.
Lá estava
ele deitado na cama e algumas pessoas à sua volta a tirar fotos. Empurras-te todos e ficaste ao lado dele, está de olhos abertos, parece que te está a ver,
não aguentas mais e choras em cima daquele que agora nada te vale e que tu
amas-te, mas que hoje te deu uma notícia amarga e não tiveste coragem de lhe
dizer o que tanto gostavas e querias. O que ambos tinham combinado e acordado terem em
comum. Ambos ambicionavam uma criança cheia de vida para alegrar o
pior dos vossos dias. Sim, estavas grávida, não tiveste oportunidade de lhe
dizer e, agora como irás tu tratar de toda a situação. Um bebé cujo pai não
soube da sua existência. Oh vida ingrata, Oh que escuro está agora o teu
coração, está de luto pelo teu grande amor que morreu sem saber que iria ser
pai. Morreu sem saber que iriam ter uma vida a três, já programada, mas ainda
não confirmada. Oh! Triste Vida.
Um agente policial entrega-te uma carta, tem
o teu nome no envelope. Começas a ler, é dele.
“Desculpa amor de partir assim de repente,
mas sempre te amei, amo-te e amare…”
Acaba assim uma carta deixada pelo seu amor,
inacabada e quase impercetível, mas cheia de amor e de carinho que só soube
expressar o que sentia com uma morte algo desastrosa.
Agora mulher é preciso ter coragem e seguir em
frente. Tu tens de conseguir. Tens uma criança dentro de ti, uma vida concebida
com muito amor. Sê forte.
Vai para casa deixando para trás a amargura
de uma vida vivida a dois com bastante amor, até então … Deita-se e aguarda o
raiar do dia. Imensos pensamentos chegam até ela, uns bons outros menos bons. Mas
isto tem de finalizar e amanhã vai começar a procurar emprego. Tem agora duas
bocas para dar de comer, tem de batalhar para dar uma vida em segurança e minimamente
estável para o filho que vai nascer.
De manhã, bates a várias portas, mas não te
dão emprego. Estás exausta e desiludida por nada conseguir. Estás prestes a
desistir, mas lembras-te da vida que está dentro de ti, e de tanto carinho que
já sentes por ela. De repente num restaurante vês uma placa: “Precisa-se menina apresentável. Paga-se bem.”
Entras, perguntas se ainda precisam de
empregada, gostaram da tua aparência e com o tempo aprendes o ofício na
perfeição. Estás satisfeita, serves às mesas, conversas com a clientela, gostas
do que fazes.
Mas depois de algum tempo a tua barriguinha
cresceu, já não dá para esconder mais. Descobrem que estás grávida e despedem-te.
Novamente na rua e sem dinheiro para muito mais tempo. Pedes esmola pelas ruas,
dormes tapada com cartões numa rua qualquer, és uma das muitas sem-abrigo da
cidade. Pedes sopa para te aqueceres. Tens uma vida difícil de tragar, choras
em todos os cantos, mas ninguém te dá guarita, nem comida, nem emprego. Os meses
vão passando e o bebé finalmente nasce. É um belo rapaz com saúde e parecido ao
pai.
Recomeças-te a procurar emprego e nada
encontras, mas, essa situação não pode acontecer. Agora mais que nunca tens uma
criança a teu cargo, tens de lhe dar de comer e todas as coisas que um bebé necessita.
Tens de pensar nesse ser vivo, pequenino, que está sob a tua alçada e que não
tem culpa nenhuma da situação que se transformou.
E é então que decides, a muito custo, por
comida na mesa, e ter um abrigo para vocês os dois. Entregas-te a um e a outro,
novo ou velho, sem amor, apenas por dinheiro, sujo ou limpo pouco importa, o
que é preciso é que apresente as notas no início do serviço para puderes
sustentar o teu filho.
Esses homens não têm um mínimo de
consideração para com as mulheres e tu tens de lhe fazer as vontades, pois tens
de sofrer muito para ambos sobreviverem.
A vida por vezes é cruel e injusta, mas tu
conseguiste ultrapassar muitas dificuldades, muitas situações e muitos dissabores
para dar toda a educação ao menino que é tão cheio de vida e de traquinices.
Um dia mais tarde o teu filho vai
agradecer-te tudo o que sofres-te e vai ajudar-te. Ele compreenderá todos os
sacrifícios passados, e ambos viveram em harmonia. Tem fé Mulher, que esse dia
chegará.
Ele vai compreender-te e perdoar-te.
O que será isto senão uma história aleatória...
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